sábado, 20 de março de 2010

Groucho Marx e os Tribalistas

Não é de hoje que eu tenho implicância com o conceito de tribos. Nada contra os brasileiros nativos (de pés descalços ou de havaianas). O alvo de minha implicância são as famosas tribos urbanas.

Esse conceito de ajuntamento de pessoas com mesmos objetivos e crenças que, teoricamente, não tem nada de mais e, pelo contrário, está na base da criação das sociedades civilizadas. Mas a coisa começa a desandar quando o conceito de tribo esbarra na tal da rebeldia.

É super radical ser punk, ou metaleiro, ou skatista, ou qualquer outro grupo de pessoas que nadam contra corrente e são contra-tudo-isso-que-está-aí.

Só que, da forma como enxergo, esses grupos acabam sendo ultra-reacionários e conservadores. Na verdade, mais conservadores do que o pessoal da TFP.

Por exemplo: digamos que você tenha um emprego bem convencional, daqueles que te obriga a ir arrumadinho para o trabalho e coisa e tal. Digamos que você trabalhe em um banco. Só que, por trás dessa carcaça mauricinha, você é um grande fã de metal. Daqueles que conhecem profundamente desde os medalhões do estilo, até aquela bandinha croata de Power-death-thrash-metal.

Então você decide, todo animado, a ir a um show do Pantera. Só que você teve de trabalhar até tarde e vai direto para o show sem ter tempo de ir em casa colocar sua fantasia de metaleiro. Calça social, camisa para dentro da calça, cabelo cortado, sabe o tipo? Então...

Bom, no meu mundo ideal, um metaleiro de raiz ia ver esse cara durante o show e dizer:

- Pô cara! Se eu cruzasse com você na rua, nunca ia adivinhar ia te encontrar aqui. Legal você curtir esse som também!

Mas, enquanto isso no mundo real:

- Que qui tu ta fazendo aqui, mauricinho?! Que qui tu entende disso?! Vai pra casa escutar pop seu playboyzinho de merda! Sai daqui antes que a gente quebre os seus dentes.

Bom, ele pode até não falar isso, mas vai pensar. A não ser, talvez, aquela parte dos dentes quebrados (pode ser que ele seja mais do tipo que quebra pernas, vai saber...).

Donde se conclui que até para ser rebelde você tem de seguir o manual.

Ou seja, se você quiser ser aceito como metaleiro, você tem de se vestir de preto, ter cabelo comprido (preferencialmente barba também), tatuagem, se comportar da forma X, falar da forma Y e andar do jeito Z (substitua “metaleiro”por qualquer outra tribo “rebelde” e continua sendo verdade). Ou, no mínimo obedecer a um número mínimo de regras deste conjunto (esse número mínimo deve ser estabelecido por algum órgão do tipo Sindimetal, ou Ordem dos Headbangers do Brasil).

Porra! Tem mais regras do que para se filiar ao Iate Clube.

Que rebeldia é essa que te entrega, ainda na entrada do círculo tribal, um manualzinho com dezenas de regras que você tem de obedecer à risca, sob pena de ser expulso da tribo com desonra e sob apedrejamento (Connor McLeod mode: on).

Rebeldia pode até ser ir de coturno e calça rasgada ao Teatro Municipal, mas também é (talvez muito mais) ir de smoking ao show de punk rock. Rebeldia é fazer as coisas como e quando quiser, e não seguir um monte de regras babacas.

Ahn? O que Groucho Marx tem com essa história?!

Boa Pergunta.

É que, em relação a este assunto, eu sigo a máxima marxista (do Groucho claro, não daquele outro barbudo carrancudo) de que eu nunca entraria para um clube que me aceitasse como sócio.



P.S.: Desculpe a quem já leu esse texto em minha outra encarnação no Mad Dog, mas eu achei que ele tinha tudo para estar aqui também, dada a proposta do blog.